domingo, 3 de fevereiro de 2013




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PEDAGOGIA DA PRESENÇA NA REDE DE RELAÇÕES

Eliane Azevedo*

A sociedade atual marcada pela velocidade, instantaneidade e fragmentação das relações interpessoais desafia os educadores para uma pedagogia da presença na rede de relações educacionais. De um lado o desejo de proximidade, de escuta atenta da vida do outro ser humano e de outro lado a descartabilidade que gera o vazio existencial. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, na obra “Amor líquido” apresenta uma reflexão interessante para o cultivo da proximidade e a saída do narcisismo que aprisiona a alma humana. Transcrevo a citação de Bauman “Aceitar o preceito de amor ao próximo é o ato de origem da humanidade. [...] Amar o próximo pode exigir um salto na fé. O resultado, porém, é o ato fundador da humanidade”.

Um salto na fé exige a coragem de VER – ESCUTAR – SENTIR o que está para além de si e abre horizontes para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo.  As crianças e adolescentes desejam uma proximidade fecunda para não serem consumidos pelos meios de comunicação social que muitas vezes cristalizam atitudes de fechamento ao encontro face a face.

Ouvindo uma adolescente, nesta semana, pude reconhecer na adolescência atual o desejo gritante para interagir com as pessoas de uma maneira próxima e dialogal. A sua demanda central “Ninguém tem tempo para ouvir o que quero falar, meus amigos não olham nos olhos e ficam apenas frente aos celulares, no facebook...”. A mídia favorece a criação de uma rede de relacionamentos, mas o vazio existencial clama por uma proximidade humana e uma pedagogia da presença na vida do outro.

O que vem a ser a pedagogia da presença na rede de relações?

Uma maneira de tornar-se presente na vida das pessoas como seres humanos e não como objetos, cultivando a capacidade de escutar, ver, sentir a vida na sua essência e na magnitude do desenvolvimento humano nas dimensões física, psíquica, cognitiva, afetiva, espiritual e relacional.

Várias pesquisas acadêmicas procuram estudar a rede de relações e a construção de significados para um desenvolvimento saudável. Creio que a pedagogia da presença é uma pedagogia de tornar-se presente-presença e nós educadores somos desafiados para escutar, ver e sentir o sonho das outras pessoas. Assim, finalizo esta reflexão com a poética de Rubem Alves:

"O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança:
tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores [e educadoras], antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deviam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.
"
 
* Colunista - Linha Direta www.linhadireta.com.br
Fonte: Revista Linha Direta: Inovação - Educação - Gestão.  Janeiro, 2013, p.42.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

FELICIDADE E SONHO


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Janeiro 2013!
Expressões "Felicidades", "Paz", "Amor", "Sucesso" ... são escritas e pronunciadas.
 
Segundo Aristóteles - Felicidade é ter o que fazer, ter algo para amar e algo para esperar.
 
Para você o que é a FELICIDADE? E quais os seus SONHOS?
 
O ser humano sonha com felicidade, paz, amor, sucesso... e espera concretizar seus desejos mais profundos.
O ser humano sonha e espera... fala e cala... caminha e muitas vezes volta para trás ou fica parado no "ar" dos acontecimentos.
A complexidade da vida é uma oportunidade para  passos renovados e firmados nos valores que sustentam o desejo de avançar, criar asas e voar.
Que o ano 2013 seja para você leitor, leitora, um  tempo de descobertas significativas e redescobertas do que é essencial na vida.
Que o ano 2013 seja de "luzes" para os nossos olhos!
Abraço, Eliane Azevedo

domingo, 2 de dezembro de 2012

PROXIMIDADE E GRATUIDADE

O mês de dezembro é o mês da expectativa do NATAL.
As lojas, as ruas, as casas, as pessoas buscam enfeitar a vida para uma celebração especial e todos trazem o sonho de "proximidade" - do ser presença-presente na vida das pessoas.
A temática "proximidade" é misteriosa na sua essência e significativa na dimensão do sonho humano pela presença que abre horizonte para o amadurecimento emocional e social. A vida surge do encontro e o ser humano continua necessitando nascer a cada dia, nascer no sonho de aproximar de si e dos outros de uma maneira simples e gratuita. Falar em proximidade e gratuidade na atualidade  parece fora de "moda", mas é aí que se encontra o tesouro da vida humana. Tudo passa - agora é entardecer, daqui a pouco anoitecer e depois amanhecer. A vida é circular e a  sua dinâmica é relacional.
Proximidade e gratuidade são asas para o alcance de sonhos possíveis, alimentando a mente e o coração  para  a superação dos desafios no caminho da existência humana.
Proximidade e gratuidade exige uma mente e um coração que saiba ver, escutar e sentir a vida na sua realidade, aprendendo a coragem para olhar nos olhos e ficar ao lado, perto do outro ser humano. Este é um aprendizado da SOLIDARIEDADE que alarga a mente para fora de si e avança para o sentido de família - comunidade - fraternidade.
Assim, nós educadores podemos aprender  muito do significado do viver buscando o cultivo dos valores que enaltecem a alma humana.
Desejo a todos os leitores do Blog "Travessias em Educação" um feliz mês de dezembro.
Abraços, Eliane Azevedo

terça-feira, 23 de outubro de 2012

APRENDER A CONVIVER

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No dia do educador 2012 ganhei um  livro de presente e fiquei surpresa  com o título "Intimidade: Como confiar em si mesmo e nos outros". Osho apresenta dicas para uma nova maneira de viver.
Imediatamente recordei da peça de teatro "O fantasma da Ópera", uma literatura  significativa na construção de relações humanas saudáveis e ancoradas na transparência de ser o que se é, sem máscaras diante de si e dos outros.
Osho descreve a vida como uma busca e que somos pessoas comuns quando desenvolvemos a consciência das fragilidades e talentos. Fragilidades e talentos constituem o "eu" que mora dentro de nós.  Creio que alcançamos o sucesso pessoal e social quando a máscara se torna bela pela experiência de tirar o "lacre" que impede de viver e conviver de maneira saudável e sustentável.
Aprender a conviver é uma experiência dolorosa e magnífica. Nós educadores precisamos aprender retirar "máscaras" e ajudar os educandos na rica aprendizagem de assumirem suas palavras, ações e reconhecerem a profundidade do coração das pessoas que se entrelaçam com as suas vidas.
Na atualidade  é preciso banir de nosso meio a descartabilidade humana  e acender a chama de laços significativos e saudáveis. Vamos colaborar com a  sustentabilidade e o amadurecimento humano das crianças, jovens e adultos. Depende de mim e de você! Precisamos tirar máscaras e abraçar o sentido essencial do viver e conviver. Assim, os centros educacionais podem ser reconhecidos como lugares que cultivam a essência do ser e a transparência dos valores  que constroem um mundo mais saudável.
 
Abraço pelo dia do educador. Eliane
Fonte: www.linhadireta.com.br    - Colunista Eliane Azevedo

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

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PALAVRAS SÃO PALAVRAS...
No entardecer de 03 de setembro volto o olhar para o soneto de Olavo Bilac – poeta brasileiro, uma pessoa com amor à língua na sua essência e significado. Creio que para Olavo Bilac, 1864-1918, as palavras são palavras que traduzem o mais puro dos sentimentos do ser e do estar no mundo em que vivemos. O soneto ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO vem acordar PALAVRAS que são PALAVRAS-IMAGENS do mais profundo da mente e do coração da vida.
Retomemos por um instante a escrita de Olavo Bilac:

ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!”




E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
 
Lendo e pensando nestas palavras começo a escrever palavras.
Lácio é uma região da Itália onde se falava o latim.  Muitas línguas derivaram do latim e a língua portuguesa foi denominada por Olavo Bilac como a “ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO” – último idioma que nasceu do Latim. Na profundeza das palavras de Olavo Bilac percebo a expressão rica da contribuição cultural na constituição de uma língua e a beleza da identidade da língua de nosso Brasil. Uma língua carregada de história, de sabores e de saberes.   
PALAVRAS SÃO PALAVRAS...
Com elas escrevo e traduzo o recôndito da alma;
Com elas falo os sentimentos mais belos e puros do coração;
Com elas vou a lugares jamais pisados;
Com elas posso dar sabor ou tirar o sabor da vida humana;
 
Com elas construo a vida ou machuco o que é mais nobre do coração das pessoas...
 
O que são palavras?
Palavras... são imãs e tem raízes
Palavras são metáforas carregadas de sentido
Palavras são reflexos da beleza, vigor e ternura da alma.
Palavras são palavras que abrigam o desejo de ser e estar por inteiro na vida;
Palavras são retratos do significado que damos ao que é mais precioso dentro e fora de nós.
Caetano Veloso canta palavras e recorda da “Última flor do Lácio”.
Nós, educadores e gestores na educação, precisamos recuperar a beleza, a ternura, o vigor da palavra que educa para aprender o eterno movimento de simplesmente ser com intensidade a palavra falada, escrita, cantada, revelada.
Feliz encontro com a sua PALAVRA que brota do recôndito da alma.
Abraços, Eliane Azevedo





domingo, 22 de julho de 2012

APRENDER A CONFIAR

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O psicanalista Winnicott expressou muito bem em suas obras o tema da CONFIANÇA. Olhando para os textos de Winnicott podemos perceber que a CONFIANÇA BÀSICA é  o princípio de sustentação para o desenvolvimento de um "eu" saudável e em contínuo amadurecimento.
A semente da confiança vai pouco a pouco sendo cultivada com os valores do conhecimento de si e do outro, respeito à diversidade, capacidade de desenvolver vínculos de gratuidade e um contínuo desinstalar-se de preconceitos e posições limitantes ao crescimento de si e dos outros.
Ouvindo o relato de uma professora do 2º ano Fundamental I  pude confirmar que as crianças são "mestras" da confiança que emerge da naturalidade:
A criança Erika triste ao ver a sua amiga Paula com o semblante triste... aproximou-se... e em silêncio  apenas olhou nos  olhos de Paula.   O gesto do olhar espontâneo despertou um  profundo sorriso do coração e Paula expressou "Muito obrigada".
Assim, creio que os valores mais sagrados da vida estão ancorados na Confiança e na Gratuidade de ser simplesmente o que se é na essência do ser.
Concluo esta breve reflexão, inspirada em Winnicott,  pensando que a  fala do gesto espontâneo é muito profunda  e  que  nós podemos reconhecer este gesto de maneira belíssima no rosto das crianças.

Continuemos o caminho de aprender a confiar com gratuidade!!!
Abraços, Eliane Azevedo

domingo, 8 de julho de 2012

APRENDER A CONHECER

Na visão de John  Dewey, nós aprendemos quando compartilhamos experiências.
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O conhecimento é fruto de uma significativa interação e esta supõe uma comunicação para além de palavras faladas ou escritas.
Precisamos aprender sentir as palavras e desvendar a profundidade da alma humana.
Aprender a conhecer é um processo maravilhoso de descobertas pessoais e sociais, no qual podemos avançar para olhar o essencial e construirmos  pouco a pouco uma visão ampliada de nós mesmos, dos outros e do mundo.
Outro dia, em uma situação dialógica, pude escutar uma expressiva frase pronunciada por um educador para uma jovem e me fez pensar muito no processo de aprendizagem significativa: "você está se deixando conhecer agora" . 
Nesta perspectiva, o aprender a conhecer é um processo de deixar-se conhecer para conhecer o que está fora de si mesmo e faz parte de sua vida no universo.
Exupéry na obra "O Pequeno Príncipe" apresenta a grandiosidade do aprender a desvender o mistério do conhecimento: "O essencial é invisível aos olhos".
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E assim  a aprendizagem significativa proposta por Ausubel expressa o "sentido" de aprender a conhecer o que faz "sentido" e dá "sentido" ao viver.
Penso que Exupéry, John Dewey  e Ausubel expressam a filosofia do aprender a conhecer o significado profundo do aprender a aprender, como nos apresenta os pilares da educação, propostos pela UNESCO (1996): aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
Nós, educadores, precisamos conhecer com profundidade a mente e o coração das  crianças, jovens e adultos. Juntos podemos experimentar a arte encantadora do aprender a conhecer a essência da vida.
Esta reflexão brotou do desejo de construir o conhecimento de uma maneira interativa, dialógica e com  humildade para aprender com as outras pessoas sempre.
O abraço do universo para você, amigo leitor e amiga leitora.
Eliane Azevedo