domingo, 17 de abril de 2011

A POÉTICA DO SILÊNCIO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

(cf google imagem)
No sábado, visitando uma educadora amiga, com  seus mais de 50 anos na educação, reconheci a poesia nas entrelinhas de nosso diálogo e olhando um vaso com flores amarelas, brancas e lilás sobre a mesa, compreendi que a percepção da comunicação está para além das palavras faladas. Um vaso de flores fala por si e cada pessoa faz uma leitura do mesmo, despertando ressonâncias e repercussões.
Histórias de aprendizagem foi o centro da conversa, desencadeando recordações de algo que escrevi quando tinha os meus doze anos de idade com o título “Reflexos do sol na água”.
Gaston Bachelard, filósofo, em sua obra “A poética do Espaço” apresenta uma reflexão filosófica sobre a imagem poética como uma repercussão do ser - “As ressonâncias dispersam-se nos diferentes planos de nossa vida no mundo, a repercussão convida-nos a um aprofundamento da nossa própria existência”. E buscando uma conceituação de tais termos em Bachelar, encontro que  “Na ressonância ouvimos o poema; na repercussão o falamos, ele é nosso”.
E comecei a pensar na poética do silêncio nas relações aprendiz-aprendiz que é a relação educando-educador.
A vida é uma obra de arte! Vivê-la com intensidade é um desejo natural e universal! A sede do belo, do sentido da vida é algo inato em nós e ultrapassa a nossa capacidade de nomear as vivências significativas. A luz interior é um reflexo de nosso ser em contínuo aprendizado e descobertas. Para compreendermos tal dinâmica é preciso reencontrar com o mais íntimo de nós mesmos e assim torna-se necessário um silêncio fecundo para escutar o próprio ser em sintonia com outros seres.
Carlos Drummond de Andrade apresenta uma poética do silêncio em seu verso “Escolhe teu diálogo e tua melhor palavra ou teu melhor silêncio. Mesmo no silêncio e com o silêncio Dialogamos”.
Na travessia da vida, as imagens poéticas brotam da essência de um ser falante, criativo, inovador, crítico, expressivo, tradutor das alegrias e tristezas da alma em versos. Estas imagens são formadas em um contexto, na rede de relacionamentos e encontros interhumanos, mas a conexão profunda parte do próprio ser que estabelece uma ligação íntima com a essência da vida.
O silêncio é uma maneira simples de expressar, sem o ruído das palavras, o nosso ser mais profundo. A linguagem do silêncio é uma obra de arte a ser lida com os olhos de quem ama e busca o sentido da vida.
Aprendiz-Aprendiz, Educando-Educador, somos todos nós que mergulhamos na riqueza da voz do silêncio e na riqueza dos momentos da voz pronunciada. Um aprendizado de ressonâncias e de repercussão.
Um reflexo de sol na água é algo encantador e meus olhos brilham ao recordar tal imagem materializada no rio que corta a cidade onde nasci. Pena que não guardei em papel tal escrito. Fico pensando nas crianças e adolescentes que desejam falar de suas potencialidades, de suas angústias, de suas obras de arte e esperam pelos interlocutores da educação para uma maior compreensão de si e dos outros.
Acredito que, como educadores, nós somos convocados pelo universo para uma leitura do silêncio das palavras. Uma criança de cinco anos, certo dia, brincando comigo disse “a minha mãe não me escutou hoje”. Eu perguntei “o que você falou?” E surpresa fiquei com a resposta “eu não falei falando, eu estava triste que a minha bola tinha furado e ela nem olhou pra mim”.  
Ressonâncias e repercussão - uma forte sintonia, uma influência potencializadora nos relacionamentos interpessoais. Um eco silencioso emerge nas comunicações. Nós, adultos, precisamos cultivar uma escuta das “palavras não faladas” pelas crianças e aprendermos estratégias de intervenção para escutar o silêncio falante de seres humanos desejosos de amadurecimento e compreensão.  Mesmo no silêncio, nós dialogamos e nossa ação e reação estão conectadas com a nossa capacidade de sintonizar a mente e o coração com a vida de todos os seres vivos.
Um convite para a semana: vamos tentar escutar o silêncio para além de tantos ruídos do mundo contemporâneo!
Uma boa semana, abraços, Eliane

terça-feira, 12 de abril de 2011

SER OU NÃO SER... A GENTE APRENDE...

(cf. google imagem)

 “Ser ou não ser, eis a questão” (no original em inglês: To be or not to be, that's the question) é uma das frases mais famosas da literatura e possui uma  profunda filosofia. William Shakespeare abre espaço para a  continuidade de nossas reflexões sobre o ser  contextualizado - o ser em um caminho de busca e em situação de escolhas.
Escolhas que  exigem um aprender sempre.
Na dinâmica da construção do “conhecimento” que ultrapassa as letras, os números, a tecnologia e  todas as  informações,  somos desafiados a  uma eterna travessia. Uma travessia criativa e com os pés na realidade, avançando no conhecimento do próprio ser  para  ser mais humano,  mais desprendido, mais livre e assim mais gente que aprende. Vamos caminhando no aprendizado... temos  mil razões para viver e ajudar  as  pessoas no contínuo processo de amadurecimento humano e espiritual.
Nós, educadores, precisamos cultivar um profundo mergulho na vida,   reconhecendo que somos seres inacabados, seres em busca do vir-a-ser e de um mundo mais humanizado. As escolhas são frutos de nossos sonhos e desejos!!!
Os centros educativos  precisam romper com os velhos paradigmas, entre eles, os paradigmas de resultados numéricos. Vamos fazer escolhas  que  tenham o  foco  na formação de gente que pensa, reflete, sofre, ama, vive, deseja viver e aprender...

Convido você, leitor amigo, para uma travessia interior com a leitura do texto de   William Shakespeare:

           “Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão  e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!"

domingo, 3 de abril de 2011

VÍNCULOS NA REDE DE RELAÇÕES

(cf. google imagem)

As metáforas provocam em nós imagens e significados que ultrapassam a nossa capacidade objetiva de decifrar o presente materializado. Este movimento  abre espaço para o que é mais lindo na existência humana – a capacidade de estabelecer vínculos saudáveis.
São inúmeras as experiências do dia-a-dia e muitas vezes estamos imersos na velocidade, na complexidade do espaço e do tempo, que não percebemos a grandeza dos encontros humanos. Estamos imersos, tantas vezes, em um mundo da nomeação, da ausência do mistério e da carência de sentimentos mais elevados.
Pensar em educação é pensar no conhecimento como encontro e expressão da formação de vínculos em uma rede de relações contextualizada. Um encontro significativo salva a vida de uma criança e salva a vida de um adulto. Acredito no processo dinâmico do aprender a viver, em um mundo fragmentado e de crescente invisibilidade “presencial”. Carecemos da presença do outro e tudo se torna demais “virtualizado”. 
 Há quinze dias, uma criança de cinco anos veio ao meu encontro. Ela aproxima e diz “Oi. O que você está fazendo?” Naquele momento, fiquei surpresa com a expressão espontânea e de proximidade. Nós não nos conhecíamos ainda.  Carinhosamente nos apresentamos e depois eu falei que estava preparando uma palestra para professores. Ela sorriu e disse “Eu estou desenhando, vou buscar para você ver”. Que lindo! A criança sai correndo pelo pequeno corredor, entra em outra sala, pega o papel e volta correndo. O seu olhar me encantou e sorrindo ela me entrega a pintura do seu desenho. Com o papel nas mãos eu disse “Um coração cheio de corações pequenos!” Ela responde “Não. Não é coração dentro de coração. Aí dentro tem é riscos”. A profundidade das suas palavras tocou meu coração e saiu uma palavra “Riscos?” E ela prossegue “Dentro do coração tem riscos. São as emoções”. Emocionada com a grandeza de sua alma, eu falei “Emoções?” Neste momento, pude compreender o que são as emoções no estabelecimento de vínculos na rede de relações. A criança apresenta o significado “Emoções é o que faz a gente se amar, ser feliz, ter amizade...”
Este encontro expressa a importância da presença do ser humano na vida do outro ser humano e esta se dá no face-a-face, olhos nos olhos, palavra-silêncio, manifestações do que existe de mais sagrado dentro de cada pessoa.
A formação de vínculos no ambiente familiar, social, organizacional é atravessado por inúmeras situações que provocam em nós uma transformação, quando estamos abertos para a travessia de novos paradigmas, de novas idéias e de novas atitudes.
Cultivemos o olhar do coração e da mente para uma construção sustentável de vínculos na nossa rede de relações.
Fonte: Coluna  Eliane Azevedo - Projeto Linha Direta em Educação
           http://www.linhadireta.com.br/