segunda-feira, 3 de setembro de 2012

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PALAVRAS SÃO PALAVRAS...
No entardecer de 03 de setembro volto o olhar para o soneto de Olavo Bilac – poeta brasileiro, uma pessoa com amor à língua na sua essência e significado. Creio que para Olavo Bilac, 1864-1918, as palavras são palavras que traduzem o mais puro dos sentimentos do ser e do estar no mundo em que vivemos. O soneto ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO vem acordar PALAVRAS que são PALAVRAS-IMAGENS do mais profundo da mente e do coração da vida.
Retomemos por um instante a escrita de Olavo Bilac:

ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!”




E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
 
Lendo e pensando nestas palavras começo a escrever palavras.
Lácio é uma região da Itália onde se falava o latim.  Muitas línguas derivaram do latim e a língua portuguesa foi denominada por Olavo Bilac como a “ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO” – último idioma que nasceu do Latim. Na profundeza das palavras de Olavo Bilac percebo a expressão rica da contribuição cultural na constituição de uma língua e a beleza da identidade da língua de nosso Brasil. Uma língua carregada de história, de sabores e de saberes.   
PALAVRAS SÃO PALAVRAS...
Com elas escrevo e traduzo o recôndito da alma;
Com elas falo os sentimentos mais belos e puros do coração;
Com elas vou a lugares jamais pisados;
Com elas posso dar sabor ou tirar o sabor da vida humana;
 
Com elas construo a vida ou machuco o que é mais nobre do coração das pessoas...
 
O que são palavras?
Palavras... são imãs e tem raízes
Palavras são metáforas carregadas de sentido
Palavras são reflexos da beleza, vigor e ternura da alma.
Palavras são palavras que abrigam o desejo de ser e estar por inteiro na vida;
Palavras são retratos do significado que damos ao que é mais precioso dentro e fora de nós.
Caetano Veloso canta palavras e recorda da “Última flor do Lácio”.
Nós, educadores e gestores na educação, precisamos recuperar a beleza, a ternura, o vigor da palavra que educa para aprender o eterno movimento de simplesmente ser com intensidade a palavra falada, escrita, cantada, revelada.
Feliz encontro com a sua PALAVRA que brota do recôndito da alma.
Abraços, Eliane Azevedo





domingo, 22 de julho de 2012

APRENDER A CONFIAR

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O psicanalista Winnicott expressou muito bem em suas obras o tema da CONFIANÇA. Olhando para os textos de Winnicott podemos perceber que a CONFIANÇA BÀSICA é  o princípio de sustentação para o desenvolvimento de um "eu" saudável e em contínuo amadurecimento.
A semente da confiança vai pouco a pouco sendo cultivada com os valores do conhecimento de si e do outro, respeito à diversidade, capacidade de desenvolver vínculos de gratuidade e um contínuo desinstalar-se de preconceitos e posições limitantes ao crescimento de si e dos outros.
Ouvindo o relato de uma professora do 2º ano Fundamental I  pude confirmar que as crianças são "mestras" da confiança que emerge da naturalidade:
A criança Erika triste ao ver a sua amiga Paula com o semblante triste... aproximou-se... e em silêncio  apenas olhou nos  olhos de Paula.   O gesto do olhar espontâneo despertou um  profundo sorriso do coração e Paula expressou "Muito obrigada".
Assim, creio que os valores mais sagrados da vida estão ancorados na Confiança e na Gratuidade de ser simplesmente o que se é na essência do ser.
Concluo esta breve reflexão, inspirada em Winnicott,  pensando que a  fala do gesto espontâneo é muito profunda  e  que  nós podemos reconhecer este gesto de maneira belíssima no rosto das crianças.

Continuemos o caminho de aprender a confiar com gratuidade!!!
Abraços, Eliane Azevedo

domingo, 8 de julho de 2012

APRENDER A CONHECER

Na visão de John  Dewey, nós aprendemos quando compartilhamos experiências.
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O conhecimento é fruto de uma significativa interação e esta supõe uma comunicação para além de palavras faladas ou escritas.
Precisamos aprender sentir as palavras e desvendar a profundidade da alma humana.
Aprender a conhecer é um processo maravilhoso de descobertas pessoais e sociais, no qual podemos avançar para olhar o essencial e construirmos  pouco a pouco uma visão ampliada de nós mesmos, dos outros e do mundo.
Outro dia, em uma situação dialógica, pude escutar uma expressiva frase pronunciada por um educador para uma jovem e me fez pensar muito no processo de aprendizagem significativa: "você está se deixando conhecer agora" . 
Nesta perspectiva, o aprender a conhecer é um processo de deixar-se conhecer para conhecer o que está fora de si mesmo e faz parte de sua vida no universo.
Exupéry na obra "O Pequeno Príncipe" apresenta a grandiosidade do aprender a desvender o mistério do conhecimento: "O essencial é invisível aos olhos".
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E assim  a aprendizagem significativa proposta por Ausubel expressa o "sentido" de aprender a conhecer o que faz "sentido" e dá "sentido" ao viver.
Penso que Exupéry, John Dewey  e Ausubel expressam a filosofia do aprender a conhecer o significado profundo do aprender a aprender, como nos apresenta os pilares da educação, propostos pela UNESCO (1996): aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
Nós, educadores, precisamos conhecer com profundidade a mente e o coração das  crianças, jovens e adultos. Juntos podemos experimentar a arte encantadora do aprender a conhecer a essência da vida.
Esta reflexão brotou do desejo de construir o conhecimento de uma maneira interativa, dialógica e com  humildade para aprender com as outras pessoas sempre.
O abraço do universo para você, amigo leitor e amiga leitora.
Eliane Azevedo

segunda-feira, 2 de julho de 2012

MISTERIO NA ARTE DE APRENDER


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A palavra Mistério vem do grego mystérion, significando algo secreto, interno e relacionado com a ação de calar  mýein.
Assim, quem guarda um segredo é um iniciante no ritual de aprender a grandeza de ouvir o que não se fala, mas o que corre nas veias. Esta reflexão brotou da  pergunta realizada por uma criança:  o que é o "mistério"?
Sem palavras compreensíveis, eu calei por alguns instantes e a criança disse "Acho que mistério é ficar em silêncio pensando em alguma coisa boa  e pensando só com a gente".
Sorri  e abracei  a criança que me falava da capacidade de sentir algo bom no processo de aprender o que os dicionários  não traduzem. Como diz o trecho da música "Mistério": "o meu olhar vem de encontro ao seu". Assim, o olhar da criança e o nosso olhar se encontram quando retiramos o nevoeiro dos olhos.
Cada vez mais, acredito que o olhar espontâneo das crianças é uma pérola preciosa para nós educadores e gestores nas instituições educacionais.
Pesquisamos palavras e muitas vezes deixamos de pesquisar  a  profundidade da alma da criança que está dentro de nós.
Participamos de muitos eventos educacionais, lemos vários livros, admiramos tantos autores e conferencistas... e o misterioso ato de aprender acontece para além de palavras escritas e faladas. A arte de aprender é um processo de construções significativas e isto acontece quando aprendemos tirar o chapéu para as crianças, jovens e adultos que são capazes de conviver com os momentos de prazer e desprazer, superando os obstáculos e descortinando novas possibilidades diante de tantas incertezas da sociedade contemporânea.
Educadores! O olhar  das crianças  é uma convocação  para a riqueza do misterio na arte de aprender a viver, sonhar, sofrer, amar e conquistar a identidade de pessoas felizes na relação com as outras pessoas.
Pare diante de uma criança e pergunte a ela: o que é o mistério para você?
Com certeza  teremos muitas surpresas!!
Abraço, Eliane Azevedo

domingo, 10 de junho de 2012

VIVÊNCIAS PARTILHADAS



Quem é o ser humano na sua essência?
Quem é o outro no mais profundo do ser?
Quem sou eu na relação com as outras pessoas?

Nas oscilações dos tempos modernos, muitas vezes as respostas ficam ofuscadas e caladas.
A utopia e os sonhos  ficam enfraquecidos e surge o silêncio do coração humano.
Compreender o silêncio é um desafio e somente quem ama gratuitamente pode "curtir" o valor sublime de conhecer a dimensão da alma humana para além de si.

Estes questionamentos foram tecidos pela voz de uma educadora que diante de seu filho adolescente ficou sem ação e não sabia como fazer a leitura de seu coração e vivências caladas.
Ao final de nosso breve diálogo, a educadora pronunciou "Eu queria ter as respostas faladas pelo meu filho, mas percebo que  ele experimenta o silêncio para o amadurecimento da própria identidade".

Creio que nós educadores somos atravessados no dia-a-dia por situações diversas provocando reflexões que mudam a nossa maneira de ver as pessoas e o mundo em que vivemos.

Um feliz mês de junho, abraço, Eliane Azevedo

domingo, 1 de abril de 2012

DANTE ALIGHIERI E A SEMANA SANTA

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A profunda caminhada da “Semana Santa” desafia a todos nós, educadores, para uma atitude de busca da VIDA NOVA no encontro com todas as pessoas.
Fiquei recordando da maravilhosa obra literária, Divina Comédia, de Dante Alighieri, maior poeta da língua italiana.
Dante imaginou que teve um sonho durante a Semana Santa de 1300.  O seu poema é um poema narrativo, com grandes detalhes, expressando o encontro com a força e a luz capaz de elevar a alma para a profunda experiência do paraíso.
Creio que o processo de aprendizagem é atravessado por diferentes conteúdos e um deles refere-se ao caminho de superação das forças limitantes, através da conscientização da realidade e da busca para o alcance das forças potenciais – o  paraíso, força dinamizadora do bem.
As  imagens apresentadas e descritas no poema de Dante são: INFERNO – PURGATÓRIO – PARAÍSO.
O inferno é apresentado como um espaço de rigidez e em forma de funil.  Esta imagem, para mim, representa a estreiteza da mente e coração humano que se deixa guiar pelas forças do mal. Uma experiência de fechamento, aniquilamento e sofrimento.
Assim, Dante escreve “Da nossa vida, em meio da jornada, achei-me numa selva tenebrosa, tendo perdido a verdadeira estrada”.
O purgatório é apresentado como uma forma de cone, com abertura para a passagem de um lugar para outro, revelando a  capacidade humana de conscientização, num movimento constante para o  encontro do humano com o divino. Esta passagem da ignorância para o conhecimento, das trevas para a luz, é um  processo de purificação, na experiência confiante da ajuda mútua para alcançar o paraíso.
Assim, Dante escreve “Ó gente humana, para o céu nascida, por que decaís do vento a um sopro incerto?”.
O paraíso,  acima do purgatório e como uma  imagem no alto da montanha,  aponta para a feliz experiência de encontro, no qual se pode  ver a face resplandecente do amor que irradia a vida nova na mente e coração humano.
Com Dante, podemos repetir “Ó GLÓRIA de quem tudo, aos seus acenos, move, o mundo penetra e resplandece”.
O paraíso se revela na expressão de quem ama e se torna luz  na estrada da existência humana.
Prezados leitores! Desejo a vocês uma semana reflexiva para o alcance do “paraíso” interior que abre as portas para o “bem viver” e “conviver” com todas as pessoas.
Deixemo-nos conduzir pela fonte de luz e amor em nossas vidas!
Feliz semana. Abraços, Eliane

Obs. Este texto foi publicado na minha coluna - Linha Direta www.linhadireta.com.br

sexta-feira, 30 de março de 2012

ACREDITE NA VITÓRIA




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Estive, hoje,  recordando uma cena literária para mim.

Uma pessoa sentou-se diante da outra pessoa e simplesmente disse "ACREDITE NA VITÓRIA".

A expressão de quem falava irradiava  convicção.
A expressão de quem ouvia era  de  profunda acolhida.
A conversa entre os dois interlocutores durou horas. 

Entrevistando a pessoa que falava sobre a "confiança" pude perceber que o essencial estava sendo revelado no  momento de reconhecimento  de que a vitória é fruto do "burilar" as qualidades e limitações humanas no rico processo de aprender a ser e amar as pessoas como elas são.

Horas, minutos, segundos se passaram...
Voltei ao mesmo local e deparei com as mesmas pessoas.
Percebi que reinava um  profundo silêncio entre elas.
Uma voz ecou nos meus ouvidos:
o silêncio é o tempo de saborear os bons momentos que revelam a  grandiosidade do coração humano que é capaz de transcender a si mesmo e  tudo o que existe ao seu redor.
Vale a pena silenciar o coração e a mente para sentir profundamente que a humanização das pessoas está na capacidade de amar e dar um passo a mais na construção do BEM COMUM.

Que todos nós, educadores, possamos  aprender  o mistério escondido  nas coisas mais simples da vida e assim, possamos colaborar com um projeto educativo humanizador!!!
Abraços, Eliane Azevedo