quarta-feira, 18 de maio de 2011

A EDUCAÇÃO DO OLHAR


(cf. google imagem)
Em um encontro com educadores, neste lindo mês de maio, pude constatar a importância da educação do olhar e pensar em alguns pontos para reflexão.
Rubem Alves¹, eterno poeta e leitor da beleza da alma humana, fala dessa importância de educar para o olhar

"Já li muitos livros sobre psicologia da educação, sociologia da educação, filosofia da educação, didática - mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar, ou à importância do olhar na educação” (ALVES, 2002, p.35).
Tenho conversado com muitos educadores sobre uma educação relacional e nestes encontros interhumanos percebo o desejo do aprender a olhar-se, olhar o educando, olhar os outros aprendizes, olhar o diferente, olhar as crises e as conquistas, olhar os seres vivos, olhar a vida e se reconhecer no olhar de um ser supremo, Deus.
Pensando em poesias... podemos reconhecer que  uma poética do olhar  abre nossos olhos – da mente e do coração - para uma reflexão criativa  e para a possibilidade de recriar o nosso jeito de ser, amar, lutar, sofrer, transcender e  viver em busca do essencial – o sentido último da vida.
De acordo com estudiosos, o  olho e o  cérebro  estão interconectados  pelos nervos ópticos e  a  estrutura celular da retina   é uma expansão  da estrutura celular do cérebro.  Desta maneira, podemos compreender que existe uma interdependência bonita e de registros significativos em nosso corpo. Em várias situações da existência humana somos “tocados” pela alma dos olhos. Aprendemos  a pensar o olho como um órgão visual e pouca atenção damos ao olhar, como expressão de movimento e como a alma dos olhos.
Educação do olhar
  •  Movimento
  •  Encontros interpessoais
  •  Nova leitura do eu, dos outros, do mundo, da vida
  •  Treinamento  interior e exterior
  •  Possibilidade de conexões
  •  Novo modo de enfrentar as crises, adversidades, desafios
  •  Revelação da singularidade humana
  •  Recriação do sentido da vida
  •  Percepção dos significados da existência humana em conexão com a fonte da vida
  •  Compreensão de uma beleza maior dentro do eu e dentro dos outros
  •  Transcender  - ultrapassar a superfície e penetrar na profundidade dos      verdadeiros  valores humanos, éticos, solidários e espirituais
  •  ... e podemos continuar escrevendo a nossa reflexão.
A partir da reflexão partilhada, continuo pensando sobre a  beleza da “alma dos nossos olhos”.
Vamos cultivar a arte de olhar e reconhecer em nossas vidas a brilhante frase do Pequeno Príncipe “O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”.
Um grande abraço, Eliane

Este texto foi publicado na Coluna Eliane Azevedo - Linha Direta em Educação  http://www.linhadireta.com.br/
¹ ALVES, R. Por uma educação romântica. Campinas, SP, Papirus, 2003, p.35.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

PROTAGONISTAS NO PALCO DA VIDA

                                                                            (cf. google imagem)

Numa linda e silenciosa manhã, diante de um lago, eu estava ouvindo o canto dos pássaros e o barulho dos patos na água. Escutar a natureza é algo surpreendente e inspirador. Fiquei pensando na poética do silêncio e lembrei-me da frase de Nelson Mandela “Se falares a um homem numa linguagem que ele compreenda, a tua mensagem entra na cabeça. Se lhe falares na sua própria linguagem, a tua mensagem entra-lhe no coração”. Linguagem e silêncio são meios fundantes das relações de encontro. O encontro supõe uma capacidade de comunicação, depende da relação estabelecida e de uma experiência de “encantamento”. As pessoas que cultivam a arte do encantamento com a beleza da natureza, com a beleza do outro humano, com o reconhecimento da própria beleza interior revelam uma disposição para serem protagonistas no palco da vida.
            A representação mental e afetiva das imagens procedentes do compartilhamento de experiências e significados nos encontros interhumanos, com o universo, com o próprio ser, possibilita avançar na construção de vínculos favoráveis para o desenvolvimento humano em todas as dimensões do ser e do vir-a-ser, do presente e do futuro.
            O mundo atual é invadido pela corrida do tempo e assim pouco tempo as pessoas possuem para a contemplação da beleza da natureza, pouco tempo para ouvirem os pássaros e o barulho das águas, pouco tempo para escutarem a si e os outros, pouco tempo para a maravilhosa arte de compartilhar a vida.
Alfonso López Quintás, em sua obra Inteligência Criativa: descoberta pessoal de valores, apresenta reflexões interessantes sobre o ENCONTRO. Para este autor, o encontro “implica entreverar o próprio âmbito de vida com o de outra realidade que reage ativamente diante da minha presença”. Creio que o verdadeiro encontro é um ativador de possibilidades e potencialidades para o desenvolvimento criativo do ser humano.
Ser protagonista no palco da vida e diante da vida supõe disposição para enfrentar desafios e construir um sentido de integridade pessoal, supõe motivação e capacidade de realizar ações com autonomia e comprometimento, supõe o cultivo da autoconfiança – da confiança no outro, da confiança no Transcendente, supõe criatividade para aflorar o potencial interno e ter como foco o aprender a viver. Ser protagonista no palco da vida requer sair de trás das cortinas, tirar as máscaras, subir no palco acreditando que é possível vencer as dificuldades e escolher sempre a busca do triunfo interior. Como diz Guimarães Rosa, na última frase de sua obra Grande Sertão Veredas – “Existe é homem humano. Travessia”.
Desde o nascimento, nós, crianças, adolescentes, jovens, adultos desejamos e sonhamos com a relação de mutualidade. Aprendemos a linguagem e o silêncio para a comunicação de nosso eu mais profundo. Muitas vezes, no decorrer dos anos, desaprendemos esta maravilhosa arte de viver e ficamos imersos na superficialidade e automatismos nas relações interpessoais.  Creio que nos centros educativos, nós precisamos resgatar a filosofia do aprender a SER HUMANO, para o desenvolvimento de uma ação empreendedora no palco da vida – colaborar para que o ser humano seja - um ser humano consciente de si, autoconfiante, resiliente, corajoso, disposto a enfrentar desafios, comprometido, em busca de harmonização e integridade, disposto para a travessia do encontrar-se, encontrar com os outros humanos, com todos os seres vivos e com Deus.
Unidos e juntos podemos fazer esta travessia na educação para a vida.