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No sábado, visitando uma educadora amiga, com seus mais de 50 anos na educação, reconheci a poesia nas entrelinhas de nosso diálogo e olhando um vaso com flores amarelas, brancas e lilás sobre a mesa, compreendi que a percepção da comunicação está para além das palavras faladas. Um vaso de flores fala por si e cada pessoa faz uma leitura do mesmo, despertando ressonâncias e repercussões.
Histórias de aprendizagem foi o centro da conversa, desencadeando recordações de algo que escrevi quando tinha os meus doze anos de idade com o título “Reflexos do sol na água”.
Gaston Bachelard, filósofo, em sua obra “A poética do Espaço” apresenta uma reflexão filosófica sobre a imagem poética como uma repercussão do ser - “As ressonâncias dispersam-se nos diferentes planos de nossa vida no mundo, a repercussão convida-nos a um aprofundamento da nossa própria existência”. E buscando uma conceituação de tais termos em Bachelar, encontro que “Na ressonância ouvimos o poema; na repercussão o falamos, ele é nosso”.
E comecei a pensar na poética do silêncio nas relações aprendiz-aprendiz que é a relação educando-educador.
A vida é uma obra de arte! Vivê-la com intensidade é um desejo natural e universal! A sede do belo, do sentido da vida é algo inato em nós e ultrapassa a nossa capacidade de nomear as vivências significativas. A luz interior é um reflexo de nosso ser em contínuo aprendizado e descobertas. Para compreendermos tal dinâmica é preciso reencontrar com o mais íntimo de nós mesmos e assim torna-se necessário um silêncio fecundo para escutar o próprio ser em sintonia com outros seres.
Carlos Drummond de Andrade apresenta uma poética do silêncio em seu verso “Escolhe teu diálogo e tua melhor palavra ou teu melhor silêncio. Mesmo no silêncio e com o silêncio Dialogamos”.
Na travessia da vida, as imagens poéticas brotam da essência de um ser falante, criativo, inovador, crítico, expressivo, tradutor das alegrias e tristezas da alma em versos. Estas imagens são formadas em um contexto, na rede de relacionamentos e encontros interhumanos, mas a conexão profunda parte do próprio ser que estabelece uma ligação íntima com a essência da vida.
O silêncio é uma maneira simples de expressar, sem o ruído das palavras, o nosso ser mais profundo. A linguagem do silêncio é uma obra de arte a ser lida com os olhos de quem ama e busca o sentido da vida.
Aprendiz-Aprendiz, Educando-Educador, somos todos nós que mergulhamos na riqueza da voz do silêncio e na riqueza dos momentos da voz pronunciada. Um aprendizado de ressonâncias e de repercussão.
Um reflexo de sol na água é algo encantador e meus olhos brilham ao recordar tal imagem materializada no rio que corta a cidade onde nasci. Pena que não guardei em papel tal escrito. Fico pensando nas crianças e adolescentes que desejam falar de suas potencialidades, de suas angústias, de suas obras de arte e esperam pelos interlocutores da educação para uma maior compreensão de si e dos outros.
Acredito que, como educadores, nós somos convocados pelo universo para uma leitura do silêncio das palavras. Uma criança de cinco anos, certo dia, brincando comigo disse “a minha mãe não me escutou hoje”. Eu perguntei “o que você falou?” E surpresa fiquei com a resposta “eu não falei falando, eu estava triste que a minha bola tinha furado e ela nem olhou pra mim”.
Ressonâncias e repercussão - uma forte sintonia, uma influência potencializadora nos relacionamentos interpessoais. Um eco silencioso emerge nas comunicações. Nós, adultos, precisamos cultivar uma escuta das “palavras não faladas” pelas crianças e aprendermos estratégias de intervenção para escutar o silêncio falante de seres humanos desejosos de amadurecimento e compreensão. Mesmo no silêncio, nós dialogamos e nossa ação e reação estão conectadas com a nossa capacidade de sintonizar a mente e o coração com a vida de todos os seres vivos.
Um convite para a semana: vamos tentar escutar o silêncio para além de tantos ruídos do mundo contemporâneo!
Uma boa semana, abraços, Eliane